
Naquela época, o meu único objectivo era atingir a excelência no meu desempenho profissional. Por isso, falhar não era uma possibilidade sequer. Ora isso implicava estar atenta a todos os pormenores e permanecer disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana, para resolver qualquer situação que pudesse prejudicar o sucesso de um evento. Lembrem-se, organizar 15 casamentos ao mesmo tempo.
Na altura, eu não tinha consciência de que este não era o método para as chefias reconhecerem o meu valor, mas antes uma licença para explorarem a minha energia e boa vontade. Certamente seria uma questão de perseverança. E continuei a aplicar-me, mantive-me totalmente concentrada em melhorar a minha situação através de mais esforço e sacrifício.
Dormir 3/4 horas por noite, trabalhar em média 12 a 14 horas por dia, suportar stress prolongado, fazer uma má alimentação e ainda aguentar um ambiente de trabalho de questiúnculas entre departamentos que, se não matavam à primeira, iam moendo a paciência, a motivação, a criatividade e afectando a produtividade.
Esta era eu, a 250 km/h prestes a embater contra uma muralha bem visível que eu não via – a realidade do que estava a acontecer-me. O stress e a pressão tinham-se instalado confortavelmente e eu estava viciada neles.
COMO UMA PARAGEM CARDÍACA PODE SER A TUA MELHOR AMIGA
Posso garantir-vos por experiência própria que quando “desligamos” o nosso primeiro sistema de defesa – o senso comum – é accionado o segundo: o corpo.
No meu caso, os primeiros sinais foram: insónias consecutivas, algumas perdas de memória ou “brancas”, vontade frequente de chorar, irritabilidade. Em seguida, apareceram os suores frios, os desmaios, as feridas na pele, ansiedade crescente até aos ataques de pânico.
Optei por não dar importância a estas “fraquezas” e continuei. Por fim, sofri uma paragem cardio-respiratória, em plena serra da Lousã a fazer rappel. Foi por um triz, mas não estava na minha hora.
É SEMPRE A ÚLTIMA GOTA QUE FAZ TRANSBORDAR O COPO
Na recta final da descida de rappel, tínhamos que saltar para uma piscina natural. Ao preparar-me para o salto, tive uma vertigem que despoletou um processo bioquímico interno que culminou na paragem cardio-respiratória. Acabara de embater contra a muralha!
Começou com uma dormência no braço e já não consegui verbalizar que não estava a sentir-me bem. Quando recuperei os sentidos, o monitor aplicava-me manobras de massagem respiratória. Parecia ter um elefante sentado no meu peito, tal o peso que sentia. Lembro-me dos olhos esbugalhados das minhas colegas, em cima de mim.
AINDA NÃO ERA A MINHA HORA…
Olhando para trás, as coisas podiam ter corrido muito mal. Na verdade, estava a quilómetros de distância de um hospital, numa zona montanhosa de difícil acesso. A meu favor, estava o facto altamente improvável de o monitor responsável ser médico do INEM e colaborar com aquela empresa de desportos radicais, como hobby para aliviar o stress.
No final do evento, passou-me um ralhete pedagógico, acompanhado por uma bateria de exames para fazer. Felizmente, os exames descartaram qualquer problema cardíaco, pelo que a causa provável para o episódio seria o stress e a falta de descanso. What else?
Lembrem-se que estávamos a 20 anos do aparecimento do termo “burnout” ou exaustão. Parte de mim, sabia que a situação era grave, a outra parte não acreditava que fosse assim tão grave.
Continua…
Revisão: Cecília Maia