
Fiz um esforço para ter uma vida mais saudável: comecei a reduzir as horas de trabalho e a frequentar o ginásio. Mas foi apenas mais uma tarefa a encaixar no meu dia – à hora de almoço, gente a mais, música aos berros. Saía de lá mais stressada ainda e a correr para reuniões… Pouco mudou.
Só eu não imaginava que o resultado mais lógico seria seguir as recomendações do médico. Estava demasiado ocupada em cumprir, acima de tudo, objectivos de carreira. Nem imaginava o impacto que o meu desacelerar e estabelecer alguns limites iria ter na chefia. Passou uma imagem de desinteresse e desmotivação.
O médico que me socorrera, o meu herói, depois de me fazer várias perguntas sobre o meu estilo de vida, fez as seguintes recomendações: reduzir o ritmo e as horas de trabalho, delegar tarefas (a quem?), tempo de repouso e sono de qualidade, desligar o telemóvel, manter uma alimentação equilibrada e com hora certa e encontrar um hobby.
E agora? Esta não é daquelas receitas que possa aviar-se numa farmácia.
Recomendou ainda, que substituísse o ginásio por 1 hora de caminhada ao ar livre, ioga e meditação. Fiquei boquiaberta! Não que nunca tivesse ouvido falar de meditação, mas, há 20 anos, era no mínimo exótico um médico recomendar a prática de ioga e meditação, pelo menos em Portugal.
À primeira vista, estas actividades não eram para mim, hiperactiva convicta, com a mente sempre a mil. Ficar sentada quieta em silêncio, como tinha visto o meu pai fazer? Nem pensar. Aquilo não era para mim.
O bom filho a casa torna: de Yuppie a Hippie
Nasci no início da década de 70, vivi até aos 6 anos na Holanda com os meus pais, num ambiente multicultural e ‘hippie’. A meditação, os mantras, o ioga, o regime alimentar macrobiótico eram conceitos que faziam parte da minha vivência na infância. Sim, alimentos integrais e mastigar 40 vezes cada bolo alimentar era normal.
Já em Portugal, na década de 80, o meu pai praticava ioga, meditação e mantras num centro budista tibetano – A Pirâmide.
Como podem ver, os conceitos não eram estranhos. Só não faziam parte da minha realidade naquele momento. Mas a verdade é que me sentia mal, senti-me na obrigação de seguir a recomendação.
Procurei o grupo de meditação da antiga delegação da União Budista Portuguesa, no Porto. Cheguei e observei os outros. Descalcei-me para entrar na sala e sentei-me no chão. Não foi fácil. Melhor dizendo, foi horrível, uma tortura. Ficar 1 hora sentada no chão de pernas cruzadas, em silêncio, imóvel? Só a observar a respiração? Isto era impensável! Tal como era impossível parar os pensamentos.
Aliás, esta é uma ideia equivocada que quase todos os ocidentais têm no início. Durante aquela hora, foi uma luta titânica com o tempo, com o corpo, com a impaciência, com a vontade de levantar e ir embora. Só pensava, “isto nunca mais acaba”. Aquela hora durou uma eternidade. Saí da prática mais irritada com tudo e frustrada comigo mesma, decidida a nunca mais voltar. Aquilo não era para mim!
Primeiro estranha-se, depois entranha-se
Na semana seguinte, à mesma hora, lá estava eu para mais uma sessão de tortura. Honestamente, só passados anos de prática regular, a meditação passou a ser algo natural e não forçado. Atrevo-me a dizer, algo agradável.
E acreditem, se não me tivesse apaixonado pela lógica da filosofia budista, teria desistido completamente da meditação. A meditação é só uma ferramenta para o treino da mente ser eficaz.
Revisão: Cecília Maia